terça-feira, 24 de novembro de 2009

O meu relato de vida nas testemunhas de jeová e a nova vida feliz que vivo agora

Muitos dos relatos de vida, do meu inclusive, começam assim…era uma vez…não, não é assim.
É antes assim, nasci em 1968, no mês 10, a minha mãe tornou-se estudante das testemunhas de Jeová logo após a morte do meu pai (em 1974/1975). Isto aconteceu através do testemunho de uma prima indirecta que lhe transmitiu que “poderia voltar a ver o marido na ressurreição”. Isto parece uma história infantil, mas de facto, foi o início de uma história de terror que me envolveu a mim. O que aconteceu, é que eu sem ter escolha, fui sendo educada como testemunha de Jeová. Sem perceber o que estava a acontecer! Sinais do meu pai nunca vi! Foram longos anos de calvário, digo-me agora à distância de um passado que aconteceu…estudei a bíblia através da presença assídua em reuniões particulares na casa que gentilmente a minha mãe ofertava…é de muitas memórias quase fantasiosas que é feito o meu passado desse tempo, os comentários quase metafóricos, a culpa e o julgamento sempre presentes, éramos, eu e a minha mãe, as duas que limpávamos os destroços da passagem das quase 20 pessoas que acolhíamos em nossa casa; às 5ª feiras, para uma hora de estudo do livro. Pessoas humildes, grande parte delas, pessoas sozinhas de corpo e alma, pessoas que viviam numa pobreza espiritual e que repetiam os padrões dos vários medos. Fui baptizada em 1984 pelas testemunhas de Jeová. Assumia assim um compromisso pesado. Sentia-o eu. A organização em que nos faziam sentir permanentemente a culpa, o pecado, a submissão. A leitura só por si do livro Revelação fazia-me literalmente pesadelos.


Passei por duas comissões judicativas. Com três homens a fazerem-me perguntas íntimas, pormenorizadas. Sinto hoje, já na altura perscrutava nos seus rostos, que tinham um prazer sádico e orgástico em saber pormenores da minha vida íntima, isto tudo com o consentimento da minha mãe, já que eu era menor. A certa altura, admiti coisas só…por que estava exasperada, esgotada. Continuei a acreditar no segredo do meu coração na verdade do que tinha vivido. Fui expulsa por algo que não tinha feito. Tive de aceitar. Sujeitar-me, mas seria a última vez.. sentia raiva. Acho que só não me dissociei mas cedo por causa da minha mãe. Sabia as consequências que iria ter. não me enganei. Fizeram tudo para que ela se divorciasse do meu padrasto, isto mais tarde. O que aconteceu. E depois, a dita organização, largou-a da mão. Quis ser readmitida para me dissociar. Foi um acto pensado. Minuciosamente, pensado. Portei-me bem e como me tinha portado bem, sabia que iria entrar. E entrei. Fui aplaudida. E adorei ser aplaudida. Tinha de ser eu a dizer a palavra final. E a palavra final do meu coração dizia: não podia fazer parte de uma organização paternalista, feita por homens arrogantes que violam o direito principal da vida: a consciência.

Quase me lembro como se fosse hoje, lembro-me de tudo, o passado…o ter medo de amar e de ser amada…

e o presente, é ambicioso, cada dia é uma descoberta maravilhosa. Continuo a ser a pessoa boa que um dia nasceu do amor entre um homem e uma mulher, continuo a acreditar no amor e que há de facto, um paraíso aqui e agora que construímos com as nossas acções.

Não sei se deus existe, por vezes existe, por vezes não existe, não é uma questão que me preocupe.

Acredito no que sinto.

Acredito que o meu coração fala verdade.

Este também podia ser um relato da estagnação…mas, é de facto, é o relato do rompimento dos grilhões que nos acorrentaram ao medo. De facto, as testemunhas de Jeová não se dão conta de que estão presas no fundo da caverna de Platão, vivendo as sombras com se da realidade se tratasse.

Este é o meu relato, este é o meu relato de vida, de uma longa passagem pelas testemunhas de Jeová,

Felizmente, a história de terror terminou, eu há alguns anos que me dissociei da dita organização e a minha mãe mais recentemente, também se afastou, de assistir às reuniões e de conviver com os ditos “irmãos”.

Tem sido uma vitória cada passo.

Tem sido uma celebração voltar a receber os Parabéns pelo meu aniversário e dar uma prenda especial pelo Natal à minha mãe, uma casa iluminada com luzes a piscar e um pinheiro de natal. Sinto que fomos acometidas de um vírus de que nos conseguimos livrar, curar…dou graças à Natureza por continuar a estar viva, eu e a minha mãe, individualmente, e termos compreendido que a paz de espírito, que, o “caminho de deus para a vida" individual de cada uma continua, com ou sem deus por perto.

Abro a bíblia, há imenso tempo que não faço este gesto, à procura de um texto, encontro filipenses 4:7 “e a paz de deus, que excede todo o pensamento, guardará os vosso corações e as vossas faculdades mentais”. É, de facto, o que tem acontecido neste últimos anos.

Há um passado que não se apaga, mas com o tempo, fui aceitando, passo a passo, a nova vida que hoje eu vivo. Consciente dos medos que me prendiam a crenças que me aprisionavam a minha vida, em todos os sentidos.

Os pesadelos findaram e a vida acontece em cada dia.

Descubro-me e descubro que a vida flui comigo e eu sorrio abertamente.

5 comentários:

  1. Não sou TJ. Penso que nunca o poderia ser. Mas conheço quem tenha nascido no seio de uma família TJ e que simplesmente não tenha podido escolher. As TJ defendem-se dizendo que todos são livres de sair da organização. Aquilo que evitam dizer é que as consequências são pesadíssimas: é o exílio, a proscrição. Soube de um caso - contado por um colega de trabalho TJ - de um jovem (familiar do meu colega) que se veio a saber ser homossexual e foi expulso por isso. Sem trabalho e sem qualquer ajuda familiar (a comunidade proíbe qualquer contacto sob pena de toda a família ser expulsa), imagino o negro destino desse pobre jovem. Perguntei ao meu colega se ele acha lícito esse tratamento por quem diz ser piedoso e mensageiro da palavra de Deus. Ele disse-me, simplesmente, que esse familiar tinha "resolvido" ser gay e, portanto, tinha escolhido o seu caminho. E é inútil argumentar. São pessoas inteligentes, integradas na sociedade, mas com um cérebro completamente manietado pelo dogma preconceituoso e pelo medo. Se Deus existir, que os ajude a libertarem-se...

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  2. Vi no seu perfil que foi desassociada e que depois dissociou-se? Não é um contra senso? Gosto da tematica religião, especialmente o "mundo" Jeovista...
    WWW. OTALHO.BLOGS.SAPO.PT

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  3. Olá Andreia Santos.
    Obrigada pela sua visita ao blog e pelo seu comentário.
    Espero que este blog possa pelo menos ser um local de encontro e de começo de uma nova etapa de vida, que através do que é dito aqui, deixem de ter medo de assumir a sua individualidade, que seja o despertar para uma nova etapa, neste caso, de esperança de começo da vida, como ela é :)
    Um abraço

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  4. Olá Justiceiro.
    Obrigada pela sua visita.
    Relativamente ao comentário que faz, é para o esclarecer, parece-me que não foi claro no que escrevi no perfil. é que de facto, passou muito tempo...
    Fui tj durante a infância e adolescência. Fui baptizada com 13 anos. Fui dessassociada com quase 18 anos (?) e após um ano e tal pedi readmissão, fui readmitida e recordo-me, deixei de assistir reuniões mas só passado alguns anos é que escrevi carta de dissociação.
    De facto, o tempo que estive out, deu-me para consolidar a minha certeza de que não queria continuar dentro de uma organização daquele tipo.
    Já visitei o seu blog.
    Podemos ir falando.
    Uma indiscrição, foi testemunha de jeová?
    Um abraço,

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  5. Olá...
    Está feito o esclarecimento!! De facto, estar de "outro lado" (nem que seja por um curto periodo de tempo), dá para ter uma noção completamente diferente do "verdadeiro" mundo... Afinal as coisas por estes lados não é assim tão má como as TJ gostam de apregoar.
    Por falta de tempo, não posso comentar os seus outros posts, mas brevemente irei fazê-lo (estou a mudar de casa!)...
    Vejo que gosta de expor as Testemunhas de Jeová e as suas doutrinas não biblicas. Creio que já leu o meu blog e que já viu que em alguns posts também tento fazê-lo... Para mim, infelizmente, tornou-se quase tema do dia o assunto "TJ"... Embora no meu blog, leve o tema com alguma ligeireza e por vezes humor, sei que é um assunto muito quente e que precisava de ser denunciado. Enfelizmente aqui em Portugal parece não existir alguém com "coragem" para denunciar os autenticos maus tratos psicologicos exercidos por essa denominação religiosa (seita). Há algum tempo que tenho um pequeno projecto, mas sozinho seria muito dificil de concretizar... Enquanto isso, vou escrevendo no meu blogue,mas sei que o mesmo terá muito pouca visibilidade.
    Quanto a sua pergunta, embora possa parecer muito estranho, não fui Testemunha de Jeová. Sei que talvez seja um pouco dificil de acreditar, pelo facto de até saber as terminologias empregadas pelas TJ, e parecer estar minimamente informadas sobre as mesmas, mas a verdade é que passei ano e meio a investigar sobre elas e devo confessar (e sem mnenhuma presunção), que sei mais sobre a Sociedade Torre de Vigia, do que as prorprias Tjs (o que diga-se de passagem, não é muito dificil!).
    Muito mais gostária de dizer sobre mim, mas como deve de entender, existem coisas que não posso revelar, mas terei todo o gosto (se quiser) conversar consigo por e-mail. Não me leve a mal, mas depois irá compreender...
    Fica aqui desde já o meu e-mail:
    cvmaximo@sapo.pt
    Enquanto isso, terei todo o gosto em continuar a ler e comentar o seu blogue. Continue assim e coragem...
    Um abraço.
    Justiceiro

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